Ouça "Ave Maria" com Augusto Calheiros
e "Abismo de Rosas" com Dilermano Reis
e "Abismo de Rosas" com Dilermano Reis
Quando o sino tange "Ave Maria" (ensaio)
Haviam
muitas músicas que meu pai, Sr. Orlando Toffanetto (1924-2007) ouvia em sua
radio-vitrola na sala de estar. Discos para 78 rpm, feitos em carnaúba, frágeis
como porcelana, valiosos como a vida, um tesouro - o que ficou deles está sob
minha guarda numa caixinha de madeira feita por ele. “Ave Maria” com Augusto
Calheiros era sempre ouvida em casa, mas eu, no alto de meus seis anos de
idade, ainda não a entendia.
Era um
fim de tarde encostando na noitinha. Eu o observava no ritual do fazer café.
Num dado momento a rádio passou a tocar Ave Maria lá na sala. Ele ficou
imobilizado sob o lume azulado que transpassava o vitrô da cozinha. Não sei por
quanto tempo ele ficou naquele estado de profunda reverência contemplativa,
algo novo para mim. Vira-o nas missas dominicais, nos ‘terços’ que ele ia a
convite da vizinhança, e nada se comparava com aquele momento especial, mágico,
único. Sua vida, que era a minha vida, passava síntese. Esta imagem, desde o
seu falecimento, fica cada vez mais forte em mim.
Depois
desta experiência comecei identificar tal sentimento na maioria das diferentes valsinhas
brasileiras constantemente ouvidas, como “Abismo de Rosas” cujo bordão
ele tirava ao violão. Mais tarde, ouvindo Villa-Lobos, redescobri este mesmo
sentimento que o defino como de brasilidade.
Explicar
este sentimento não é nada fácil, pois há que se casar beleza com tristeza, ou
melhor: a exuberância da natureza vista com olhos crepusculares cheios de fé na
vida. Há de casar emoção com razão, solidão com arquibancada de jogo de futebol,
crueza da realidade algoz com entusiasmo artístico filosófico em ponto de
equilíbrio. Casar o princípio com o fim, a desolação com a criação, o nada com o
Todo, o cheio com o vazio. Um casamento chamado de “religare”, isto é, no altar da vida a desejada fusão
com as estrelas, ou no tanto que se pôde do Cosmo integrar.
Creio que
o famoso, alegre e vibrante choro “Tico-tico no Fubá” de Zequinha de Abreu foi
composto depois de um sentimento destes que parte radioso de silencio, e que muitos
tentam, desde a antiguidade clássica, defini-lo como melancolia. (Jairo Ramos Toffanetto)
Composição de Erotides de Campos
(Na foto, Alfredo Leite Cavalcanti e Augusto Calheiros)
Em comentários no YouTube, Samuel Machado Filho nos reporta que Erotides compôs esta valsa em 1924, quando residia em Pirassununga (SP), ocasião em que dava aulas na escola normal do município. A convite do prefeito Fernando Costa, futuro governador de São Paulo, ela dedicou a musica à Gilda, filha de Fernando Costa.
Abismo de Rosas foi composta em 1916 por Américo Jacomino, ainda adolescete. Darcio Fragoso teve razões para escrever que "Abismo de Rosas" é peça obrigatória dos maiores violonistas brasileiros desde Dilermando Reis a Baden Pawell. É considerada como "hino nacional do violão brasileiro" pelo professor Ronoel Simões, uma autoridade no assunto.
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