domingo, 21 de abril de 2013

"A cruz de flauta" (Parte 1)


A "A cruz de flauta" (1998) foi o meu primeiro poema longo . Nesta postagem está a sua abertura (Parte 1). A ilustração (lira dos poetas) foi uma generosidade do meu amigo Elvio Santiago e originalmente criada para a capa do meu primeiro livro "Bloco Aéreo" (aqueles blocos de papel carta para correio), da qual fiz inúmeros recortes, montagens como a abaixo, e com eles ilustrei todo o poema .



"A cruz de flauta"

"levar a vida na flauta é coisa de poeta"
quem assim diz é porque não deduz
que a flauta pode ser um travessão em cruz.
Se o poeta não a está tocando,
nos ombros a está carregando.
Ancorar o canto é a sua pauta

(estribilho)
poeta fazer
a cruz flautar
vezes poder
a bruma soprar

entrecruza viga o madeiro
em construção importante
de flauta sempre ponte
poetificada sustentação
trazendo canto cimeiro
do pilar do coração

(estribilho; leia-se "pluma" no lugar de "bruma")

seja sobre o Solimões
ou num fio d'água da fonte
é emérito construtor de ponte
se no chão nem falta d'árvore folha
dar passagem a formiga
sobre veros pontilhões

[estribilho; escolha você: "bruma" ou "pluma"
e do mesmo modo nos estribilhos sucedentes (entre parênteses)]

talvez porque sua cruz, hoje e futura,
seja a mais leve de todas as flautas,
é que sempre pode ver a agrura
e assoprar a embocadura

(estribilho: "..........")

numa sessão de libérrima poemática
passar pelos ouvidos de uma criança que o faz
poetizar versos musicais de lida entusiástica
transversal flauta pertinaz

( ....... )

cavalga corcéis alados em velozes zás
o poeta flautista é movido pela paz
se pastoreia versos coloridos
também é banqueiro de caríssimo problema
tantos fugidios sentimentos luciluzidos
nos seus versos intentarem o mais belo poema

( ........ )

ajustador
de versos matrizes
tecelão
de sonhos motrizes

( ........ )

entre terra e céu derradeiro
também é pedreiro
só porque o tijolo é cozido
e, para escritos, um abrigo

( ........ )

anverso
o poeta
ins(as)pira-se
not'arquiteta

(........)

zás - tinturas estrofes - trás

(fim da primeira parte)
Jairo Ramos Toffanetto


Nenhum comentário: