A "A cruz de flauta" (1998) foi o meu primeiro poema longo . Nesta postagem está a sua abertura (Parte 1). A ilustração (lira dos poetas) foi uma generosidade do meu amigo Elvio Santiago e originalmente criada para a capa do meu primeiro livro "Bloco Aéreo" (aqueles blocos de papel carta para correio), da qual fiz inúmeros recortes, montagens como a abaixo, e com eles ilustrei todo o poema .
"A cruz de flauta"
"levar a vida na flauta é coisa de poeta"
quem assim diz é porque não deduz
que a flauta pode ser um travessão em cruz.
Se o poeta não a está tocando,
nos ombros a está carregando.
Ancorar o canto é a sua pauta
(estribilho)
poeta fazer
a cruz flautar
vezes poder
a bruma soprar
entrecruza viga o madeiro
em construção importante
de flauta sempre ponte
poetificada sustentação
trazendo canto cimeiro
do pilar do coração
(estribilho; leia-se "pluma" no lugar de "bruma")
seja sobre o Solimões
ou num fio d'água da fonte
é emérito construtor de ponte
se no chão nem falta d'árvore folha
dar passagem a formiga
sobre veros pontilhões
[estribilho; escolha você: "bruma" ou "pluma"
e do mesmo modo nos estribilhos sucedentes (entre parênteses)]
talvez porque sua cruz, hoje e futura,
seja a mais leve de todas as flautas,
é que sempre pode ver a agrura
e assoprar a embocadura
(estribilho: "..........")
numa sessão de libérrima poemática
passar pelos ouvidos de uma criança que o faz
poetizar versos musicais de lida entusiástica
transversal flauta pertinaz
( ....... )
cavalga corcéis alados em velozes zás
o poeta flautista é movido pela paz
se pastoreia versos coloridos
também é banqueiro de caríssimo problema
tantos fugidios sentimentos luciluzidos
nos seus versos intentarem o mais belo poema
( ........ )
ajustador
de versos matrizes
tecelão
de sonhos motrizes
( ........ )
entre terra e céu derradeiro
também é pedreiro
só porque o tijolo é cozido
e, para escritos, um abrigo
( ........ )
anverso
o poeta
ins(as)pira-se
not'arquiteta
(........)
zás - tinturas estrofes - trás
(fim da primeira parte)
Jairo Ramos Toffanetto
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