sábado, 12 de dezembro de 2015

“CORAÇÃO DE NATAL” (1) _ Não presta endividar-se com um coração


Prelúdio

Google Imagens
Crônica escrita por volta do ano 2001 e reencontrada depois de eu procurar um recente poema escrito e salvo sem saber em que pasta. Em casos assim, você digita o nome do arquivo e o computador vasculha-se à procura. Não sei porque, mas achei que o nome dado fora "Presença Infinita". Não por acaso, sei disto, abriu-se uma coletânea de crônicas vinda de uma pasta chamada "back-up" salva às pressas como o nome de "Pentium I" e sistematicamente procurada por todos estes anos. Uma felicidade. Inúmeras crônicas do tempo em que muitas delas foram publicadas por num jornal local, e que estavam intermediadas ora por haicais, ora por poemas curtos. Rolei o cursor da tela e o soltei. Ele parou em um daqueles poemas ao qual postei direto neste meu blogue "Poemas de Sol" dando-lhe o título Poema Imagético, 10 _Por tudo que disponho. Isto foi ontem, hoje repito o modo de arrastar e soltar o cursor da tela. Outra felicidade. Reencontrei "Coração de Natal" (postagem abaixo) do qual publico os primeiros parágrafos, Poxa, estamos em dezembro, mês natalino... Coincidência? pois, hoje, a Regina e eu voltávamos da cidade de São Paulo e, mais uma vez, há duas semanas antes do Natal, vimo-la crua, descarnada como sempre, não diferente de qualquer mês do ano, apagada das luzes natalinas, do espírito natalino do Amor Maior, da Paz Maior, da Concórdia Maior. A “crise do planalto” é mesmo malévola para uma nação, não para o coração .


“CORAÇÃO DE NATAL”

“Assinalemos este dia entre os mais felizes,
não se poupem ânforas.”
(Horácio, Ode XXVI)

Depois do almoço de Natal, ainda à mesa, um relato sobre avós e netos e um livro às mãos, levou-me a reunir algumas projeções de imagens do coração na forma da crônica que se segue.

Algumas destas projeções vinham ocorrendo desde o momento em que coloquei o pé na calçada da casa do meu pai onde, como num instantâneo, viera-me a sensação de um coração que se expandia da cozinha, com os cheiro de forno e fogão. Da casa paterna, os encantos do espírito natalino tomaram-me de súbito. O olfato abriu o meu coração, aliciando-o irresistivelmente com o estômago num só apetite.

Meu filho menor acionou a campainha e escondeu-se atrás da mesma árvore de sempre, esperando que o coração do avô repetisse a conhecida festa da procura, surpresa e abraço. Da rua, nós ouvimos o “din-don-din-don” soando baixinho dentro da casa, tocando da manjedoura num cantinho do coração da gente. Os três reis magos deviam estar por ali. Peguei-me com o mesmo sorriso da minha mulher e dos meus dois filhos. Uma certa energia no ar, uma certa magia, um deslumbramento pueril, um sentimento a ser percorrido.

Já na sala, entre abraços e presentes trocados com o coração, o apito do peru no forno associara-se a um coração sonoro fazendo um alvoroçado convite para que fôssemos pra cozinha. Tinha pressa de ter os convivas juntos à mesa da copa rechonchuda como um coração.

Às vezes, o coração não gosta de esperas, especialmente quando em transbordamento. Frustrar um coração assim? que pecado... Não presta endividar-se com um coração destes, mas cuidá-lo com afeto, com um sem fim de atenção e carinhos, abraços e beijinhos, especialmente quando tão presente, tão mágico de gestos poéticos.

Um coração surpreende sempre. Doa-se de cada jeito...

JRToffanetto

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