Prelúdio
Google Imagens |
Crônica
escrita por volta do ano 2001 e reencontrada depois de eu procurar um recente
poema escrito e salvo sem saber em que pasta. Em casos assim, você digita o
nome do arquivo e o computador vasculha-se à procura. Não sei porque, mas achei
que o nome dado fora "Presença Infinita". Não por acaso, sei disto,
abriu-se uma coletânea de crônicas vinda de uma pasta chamada
"back-up" salva às pressas como o nome de "Pentium I" e
sistematicamente procurada por todos estes anos. Uma felicidade. Inúmeras
crônicas do tempo em que muitas delas foram publicadas por num jornal local, e
que estavam intermediadas ora por haicais, ora por poemas curtos. Rolei o
cursor da tela e o soltei. Ele parou em um daqueles poemas ao qual postei
direto neste meu blogue "Poemas de Sol" dando-lhe o título Poema
Imagético, 10 _Por tudo que disponho. Isto foi ontem, hoje repito o modo de
arrastar e soltar o cursor da tela. Outra felicidade. Reencontrei
"Coração de Natal" (postagem abaixo) do qual publico os primeiros
parágrafos, Poxa, estamos em dezembro, mês natalino... Coincidência? pois, hoje,
a Regina e eu voltávamos da cidade de São Paulo e, mais uma vez, há duas
semanas antes do Natal, vimo-la crua, descarnada como sempre, não diferente de
qualquer mês do ano, apagada das luzes natalinas, do espírito natalino do Amor
Maior, da Paz Maior, da Concórdia Maior. A “crise do planalto” é mesmo malévola
para uma nação, não para o coração .
“Assinalemos este dia entre os mais felizes,
não se poupem ânforas.”
(Horácio, Ode XXVI)
Depois do almoço de Natal, ainda à
mesa, um relato sobre avós e netos e um livro às mãos, levou-me a reunir
algumas projeções de imagens do coração na forma da crônica que se segue.
Algumas destas projeções vinham
ocorrendo desde o momento em que coloquei o pé na calçada da casa do meu pai
onde, como num instantâneo, viera-me a sensação de um coração que se expandia
da cozinha, com os cheiro de forno e fogão. Da casa paterna, os encantos do
espírito natalino tomaram-me de súbito. O olfato abriu o meu coração,
aliciando-o irresistivelmente com o estômago num só apetite.
Meu filho menor acionou a campainha e
escondeu-se atrás da mesma árvore de sempre, esperando que o coração do avô repetisse
a conhecida festa da procura, surpresa e abraço. Da rua, nós ouvimos o
“din-don-din-don” soando baixinho dentro da casa, tocando da manjedoura num
cantinho do coração da gente. Os três reis magos deviam estar por
ali. Peguei-me com o mesmo sorriso da minha mulher e dos meus dois filhos. Uma
certa energia no ar, uma certa magia, um deslumbramento pueril, um sentimento a
ser percorrido.
Já na sala, entre abraços e presentes
trocados com o coração, o apito do peru no forno associara-se a um coração sonoro
fazendo um alvoroçado convite para que fôssemos pra cozinha. Tinha pressa de
ter os convivas juntos à mesa da copa rechonchuda como um coração.
Às vezes, o coração não gosta de
esperas, especialmente quando em transbordamento. Frustrar um coração assim?
que pecado... Não presta endividar-se com um coração destes, mas cuidá-lo com
afeto, com um sem fim de atenção e carinhos, abraços e beijinhos, especialmente
quando tão presente, tão mágico de gestos poéticos.
Um coração surpreende sempre. Doa-se de
cada jeito...
JRToffanetto
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