(Imagem extraída da Internet e negativa para edição)
Há três dias das eleições para Presidente da República, vejo o pessoal com quem trabalho – umas trinta pessoas - e nenhuma referência sobre a decisão dos destinos do país. Também não é de futebol que estão falando, ou das novelas, ou de qualquer tema que domine o cenário nacional. Se é que disto posso tirar uma mostra em grande escala, só reafirma a minha impressão de que vivemos uma época sem paixão. A indiferença graça.
Uma amiga contou-me que nos tempos de colegial vividos por ela na cidade do Rio de Janeiro, sua turma se dividia em preferência entre Drummond e Bandeira. Na mesma época, aqui em Jundiaí, os professores de minha escola pública fizeram um convite para que as classes se juntassem aos sábados à tarde com jornais, revistas, livros e discos, e com a recomendação de que abríssemos uma discussão livre do que se passava no país e no mundo, especialmente para o exercício da opinião própria e da oratória, formando, assim, uma comunidade de indivíduos mais fortes e imunes a comum alienação da realidade de então. Isto se passava na década de setenta, e a presença dos alunos foi marcante, especialmente pelo entusiasmo daquele encontro e, como resultado, mudou o perfil das herméticas rodinhas de recreio.
Através dos meios de comunicação e da interação entre amigos, tentávamos entender tudo o que estava em torno. A revista “Realidade” tinha peso entre nós, adolescentes. Vivíamos os tempos de movimentos como a “tropicália”, o “flower-power”, o “black is beautiful”, do rock n’ roll, dos cinemas italiano e francês. O temerário psicodelismo, a contracultura, tinham o contraponto, além da escola, da roda de violões nas praças, esquinas, e em torno da fogueirinhas que se fazia nas noites de lua.
No “Estadão” (Jornal o Estado de S.Paulo), eu, particularmente, acompanhava a coluna editorial de Fernando Pedreira e os ensaios de Octávio Paz. Colecionava disco de MPB, Jazz, rock e música erudita. Nem Ravi Shankar escapava do meu interesse. Era fâ tanto de João Gilberto, Jorge Bem, Cae e Gal, quanto de Thelonious Monk a Hendrix. Curtia a poesia jovem dos anos setenta, como a do Chacal, p.ex., mas fã mesmo, eu era de Mário Quintana, e o sou até hoje. Também amava a embriagues declamante dos versos de Castro Alves, de Pablo Neruda. O ponto máximo era repetir seus versos de frente ao mar, ou de procurar a melodia deles ao caminhar descalço pela areia da praia.
Os anos foram passando, e ao reencontrar os remanescentes daquela turma, ainda discutíamos vividamente os posicionamentos políticos de um Ulisses Guimarães, de um Teotônio Vilela, de um Arthur da Távola, e para não perder o costume, ainda abríamos novas áreas de interesse com Rimbaud, com Nietzche, a música dodecafônica, e assim por diante. Já sentíamos o esvaziamento daqueles bons tempos vividos nas escolas e pelas esquinas da cidade. A mocidade, vivia um período extremamente depressivo em escatologia mundial. Bem diferente da entusiasmada geração dos tempos da brilhantina, a da bossa-nova, beatlemania, MPB. Despedíamos-nos dos últimos estertores de um sentimento poético que esteve misturado no ar e que esvaecia. No começo da década de oitenta ainda tivemos um último estertor da MPB e que surgiu em alto astral para sumir com o assumir da música brega. Nada ficou. A breganização tomou conta da década de noventa, inclusive com a música eletrônica, e esta, sem pé nem cabeça. Uma pandemia da bossalização, e creio, foi que abriu passagem para temos o presidente que temos em pleno século XXI.
Hoje, o que temos? Há alguma poética no ar que escapa dos meus cinqüenta e seis anos? Na literatura nacional, p.ex., quero que alguém me mostre algo de novo desde a geração pós-modernista? Claro, houveram grandes escritores, como o argentino Julio Cortázer. Para mim, depois de tantas e tantas, o “realismo mágico” não me basta. Cadê os grandes livros de época, como uma Margarite Yourcernar, um Humberto Ecco, e até um Fernando Namora.
Não, meus amigos, nada temos de novo a nível nacional ou mundial. Vivemos a época mais escura e triste de todos os tempos. Todavia, é no escuro que está o botão velado e que brota através de princípios eternos, e é através destes princípios que Um Mundo Bem Melhor vem sendo construído na extensão do coração de gente que vieram para outra coisa.
No domingo decidiremos por Serra ou Dilma, que pena... não vejo esperança em nenhum dos lados. A verdade está em outro lugar, um lugar inteiramente novo. Seja quem for o eleito, que pena, será o presidente lá do fim do mundo. Só me resta lamentar por esta sorte do Brasil, e o resto do mundo não fica nenhum pouco atrás. O breu é a luz da ribalta.
Jairo Ramos Toffanetto