quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"Ai, que lindo" ou "A(o)um"

Ensaio sobre o belo.

 
Quando se diz “Ai, que lindo!” para com um quadro de pintura, uma música ou um poema, o artista criador desconfia. Desconfia da identificação imediata para com sua obra. Por que se a obra nada desafia, ela não carrega, em si, ao menos alguma reflexão sobre o tema criado, deixando, portanto, de ser arte por ficar num ponto raso demais.

De outro modo, a arte pode ter levado o espectador para dentro da obra e, havendo ele nela se reconhecido, alcançou o objeto da expressão e o transcendeu. Acessou área de seu universo aonde ele pôde se integrar ao universal ou absoluto, tornando-se por esta integração algo como “em (co)autoria”, e isto é tudo o que o verdadeiro artista sonha.

Talvez porque a arte é, em geral, vista como sinônimo do belo, e belo visto como sinônimo da perfeição, daí o significado do “Ai, que lindo!”, o que já é alguma coisa, mas verdadeira obra de arte deve ir além do bate pronto dos olhos. Ninguém fala “Ai, que lindo!” para o perfume da rosa, sua essência. Escrevo, agora, um haicai assim:

“O olor da rosa

é da intimidade do universo.

Ah Uhmm...”

O artista busca a linguagem da essência, e esta, para o espectador, nem sempre é identificável à primeira vista. Vitor Hugo dizia que no peito de uma mulher voa uma pomba. Isto é lindo ou sutil? Ah, sim, a beleza do sutil, isto é, para além do objeto de admiração. Para mim, a pomba do Hugo ainda voa no meu imaginário. Vejo-a todo dia. Com ela ando de mão dadas pelas ruas da minha cidade. Abraço-a dizendo-lhe com o Sem-fim: Eu te amo.

Jairo Ramos Toffanetto

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