terça-feira, 20 de agosto de 2013

Com Max Ernest o subjetivo é a verdadeira objetividade


Max Ernest foi um pintor alemão, naturalizado norte-americano e depois francês. Também praticou a poesia entre os surrealistas.

 
Com Max Ernest o subjetivo é a verdadeira objetividade
 
Para mim, a imagem instantânea que calcou em meus sentidos é que os personagens homem e mulher estão numa vagem que se rompe pelo amor, e para além do físico. Diz de um amor embrionário.
O homem perde o chão do mundo exterior junto da mulher, daí o fato de ele não ter o restante de uma das pernas. Ela é o seu chão, o braço que o recebe e acolhe, e as pernas cruzadas indicam segura passividade. Ela nasceu para amar, e ele para trabalhar na manutenção dele.

O braço dele se projeta para fora.  Ele abraçará o mundo lá fora, fora do embrião, fora do núcleo do amor, mas carregará seu beijo para onde for. O amor o torna livre, eis a razão dele. Ela o ama por isto, liberta-o, pois. Ele ama ser amado por ela, pela beleza. Ele não a prende, ela fica. Ele sai para pacificar a natureza bruta exterior da qual saiu. Daí a corda estar fora da vagem e vagem enquanto órgão sexual feminino, a ser protegido, defendido.
Para amar ele não precisa da perna que leva a andanças subexistenciais, só amar, amar e amar. A perna não está na obra, mas não sinto que lhe falte alguma. Aqui o surreal contém mais realidade. O subjetivo é mais objetivo que o objetivo entendido como verdade.

Ele é do azul da realeza, mas é o sangue na perna da mulher que lhe dá vida, motivo. Um sem o outro seriam inanimados, não em relação interdependente, mas de necessidade da origem, da natureza mestre. Mas o homem perde a natureza ao sair fora da vagem. Talvez por isto o amor tenha virado só sexo, estreitando sua essência, seu significado de vida, reduzindo-o a objeto de satisfação do desejo próprio, individual.
Ernest coloca o olhar na origem. O amor enquanto ideal, a força da natureza enquanto semente, a completude que liberta. O homem e a mulher estão na mesma origem. Origem que os reordena para que a consciência possa se ampliar com segurança. Em Max Ernest prevalece a arte.
Jairo Ramos Toffanetto

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