Max Ernest foi um pintor alemão, naturalizado norte-americano e depois francês. Também praticou a poesia entre os surrealistas.
Com Max Ernest o subjetivo é a verdadeira objetividade
Para mim, a
imagem instantânea que calcou em meus sentidos é
que os personagens homem e mulher estão numa vagem que se rompe pelo amor, e para
além do físico. Diz de um amor embrionário.
O homem
perde o chão do mundo exterior junto da mulher, daí o fato de ele não ter o restante de uma das
pernas. Ela é o seu chão, o braço que o recebe e acolhe, e as pernas cruzadas
indicam segura passividade. Ela nasceu para amar, e ele para trabalhar na manutenção dele.
O braço dele
se projeta para fora. Ele abraçará o
mundo lá fora, fora do embrião, fora do núcleo do amor, mas carregará seu beijo para onde for. O amor o torna
livre, eis a razão dele. Ela o ama por isto, liberta-o, pois. Ele ama ser amado por ela, pela beleza. Ele não a prende, ela fica. Ele sai para pacificar a natureza bruta exterior da qual saiu. Daí a corda estar fora da vagem e vagem enquanto órgão sexual feminino, a ser protegido, defendido.
Para amar
ele não precisa da perna que leva a andanças subexistenciais, só amar, amar e
amar. A perna não está na obra, mas não sinto que lhe falte alguma. Aqui o
surreal contém mais realidade. O subjetivo é mais objetivo que o objetivo
entendido como verdade.
Ele é do
azul da realeza, mas é o sangue na perna da mulher que lhe dá vida, motivo. Um
sem o outro seriam inanimados, não em relação interdependente, mas de necessidade
da origem, da natureza mestre. Mas o homem perde a natureza ao sair fora da
vagem. Talvez por isto o amor tenha virado só sexo, estreitando sua essência, seu
significado de vida, reduzindo-o a objeto de satisfação do desejo próprio,
individual.
Ernest
coloca o olhar na origem. O amor enquanto ideal, a força da natureza enquanto
semente, a completude que liberta. O homem e a mulher estão na mesma origem.
Origem que os reordena para que a consciência possa se ampliar com segurança.
Em Max Ernest prevalece a arte.
Jairo Ramos
Toffanetto
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