sábado, 17 de março de 2012

Homenagem à Cia. Canto Vivo

Hoje a Cia. Canto Vivo estará no Polytheama com "Os Miseráveis (Musical)" e comemorando seus vinte e cinco anos de muita arte e apuro musical. Como me comprometi com o pessoal de casa que no mesmo horário assistiríamos a peça "Muito Barulho por Nada" de Sheakspeare, e em homenagem à Cia. - em especial à regente Cláudia Queiroz -, e na certeza de uma grande espetáculo aos privilegiados que lá estiverem, deixo aqui uma crônica que escrevi em dois mil e dois quando eles comemoravam no Polytheama seus quinze anos de existência.

"Cia. Canto Vivo" e seus 15 anos de eternidade (Crônica publicada no Jornal de Jundiaí no dia 24/11/2002)

  O artista é o criador de coisas belas. (Oscar Wilde)

"Mau egresso do XIV Encontro de Corais de Jundiaí, o Teatro Polytheama esteve novamente tomado pelo canto. Do Festival da doçura, que passou lavando a alma, vimo-nos agora, no domingo seguinte, diante do supra-sumo desta arte mais que feliz. A bela-arte subiu ao palco com a Cia Canto Vivo em seu "Concerto 15 anos". Ratificou, mais uma vez, sua maioridade precoce. Mostrou o seu horizonte perseguido, o já alcançado, e o modo como caminha em sua direção: a saltos qüânticos.

Foi assim que a história deste coral, hoje "Cia Canto Vivo", esteve contada e cantada, desde a sua criação até a sua singular projeção no meio cultural. Revelou, sem dizer, que, do ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a do músico e, especialmente, músicos instrumentistas vocais. Também sobre aquele tablado, esteve a profissão de ator, o modelo de todas as artes do ponto de vista do sentimento, seguindo-se a arte poética que do ponto de vista da superfície e símbolo, ou gênese de toda atividade artística, modelo no alimentar e dar vida, por sensibilidade e imaginação, a conceitos, e, finalmente, esteve a dança no ponto de vista da expressão antecipada do vir-a-ser".

A junção destas multidisciplinas, independeu de atrativo e emoção, pois suas atuações estiveram centradas em contribuição à satisfação estética universal. Um casamento perfeito que, em sua beleza, favoreceu o juízo-de-gosto puro. Tratou-se de uma grande produção da "Cia. Canto Vivo", que soube elevá-la à maior perfeição e, assim, voar livre, em que pesem o rigor técnico-profissional, não aparente, apenas adivinhado, e também entre os participantes convidados e em aporte. Consagrou-se a direção artística e regência, e do mesmo modo passando pela regência cênica, roteiro, textos, projeto de iluminação e operação de luz, edição de vídeo, locução, programação visual e som.

Com o misto, não haveria critério para julgamento. A determinação formal da unidade composta pelos diversos, levou a "Cia. Canto Vivo" apresentar a harmonia na sua coesão de plurais, como medida de adição, de ganho da beleza, do aumento do prazer em felicidade. Deste modo, em seu Concerto de 15 anos, pôde começar apresentando a colorida Penny Lane dos Beatles, visualmente estampada na roupagem inicial do coral, e, depois de percorrer folclore, spiritual, música sacra, erudita e MPB, encerrar, no Segundo Ato, com o cênico One day more do musical "Les Misérables", e que esteve extraordinário.

De pé, a platéia pediu "bis", mas pelos critérios já discutidos, isso não seria possível, mesmo que fosse Onde day more. Ficou por conta da alma de cada um de nós, a reflexão sonora do canto apresentado com o valor da beleza, uma jóia por excelência, um canto vivo no coração, um coração com elemento do Universo Absoluto. Neste princípio, a consciência humana, através destes coralistas, alçou-se, em noite inesquecível, aos confins do cosmo.

Em tempo: sem se deixar transparecer, o rigor da técnica coral e a tudo que o espetáculo necessita, vem se constituindo no selo mais do que sutil da "Cia. Canto Vivo", garantindo a modulação da paixão artística, e que não limita ou aprisiona o coralista ou demais executantes, mas os libertam pela competência, e mais, o todo funde-se com a platéia, pois, esta, no seu amor pelo canto, pôde, exemplarmente, voar entre asas seguras, alcançando primeiro a sublimidade, depois a emoção com a qual ela se vincula, onde o critério de julgamento ultrapassa o juízo estético, ou melhor, está na linguagem do sentir-(se), ou coisa do coração. Em suma, a poética do prazer em expressão vocal, como concerto (leia-se harmonia), decodificou a doce melodia de onde viemos, descobrindo o que somos e, assim, norteando para onde vamos. Nem isso escapou ao texto do espetáculo como arte divinal.

Quem viveu o Polytheama desta noite não saiu do espetáculo. Encontramo-nos em canto vivo e, como tal, identificados universalmente como humanos, humanos consubstanciados da leveza do sutil, mostrando o "para que viemos". Estamos todos de parabéns. A "Cia. Canto Vivo" é um orgulho para nossa cidade, e um patrimônio da humanidade."

Jairo Ramos Toffanetto

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