quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ó Terra Querida / Oh Mundo Velho Sem Porteira




A primeira vez que me entendi enquanto jundiaiense, deu-se quando meus primos de São Paulo ao nos visitarem, foram recebidos por mim com um "ó". Riram dizendo "É assim como os caipiras daqui se cumprimentam?" Eu deveria ter uns oito ou nove anos de idade e me lembro responder-lhes:
- Caipira? O "ó" é muito mais bonito que "oi" ou "ôba", "êba" que vocês dizem.
- Nós dizemos "olá" quando encontramos as pessoas. Justificaram eles.
Nisto chegou meu pai, e eles o cumprimentaram:
- Oi tio... a bênção.
Nada mais eu disse. Ria ria ria... A prima ficou vermelha como um pimentão.

Meu tio Domingos foi em socorro dos filhos e, virando-se pra mim, repreendeu-me:
- Você nasceu eu São Paulo, deveria falar como alguém da capital
- Se for assim, prefiro ser jundiaiense.
Como meu tio ficou sem resposta, meu pai desconversou o assunto perguntando do porque da não vinda da irmã dele, minha tia Elídea.

Eles não machucaram meus sentimentos em relação à cidade de Jundiaí, mas passei a ver minha cidade natal um pouco mais distante. Hoje já não tenho ilusões, cá ou lá, tudo se confunde, tudo é uma só geleia geral.

Por aqui, p.ex.,dificilmente se ouve o "ó", o que é de fazer dó, que pena. O "ó" é aberto, sonoro, exclamativo, expansivo, exprime estado de espírito alegre, contagioso, aprazível, e infinitamente mais ben-vindo que os fechados "oi" ou "ôba" de cumprimento pró forma, de acesso interditado. O "ó" é oh, bonito, poético, sonhador.

E desuso do "ó" reflete a insensibilidade de hoje para com o sonho de cidades brasileiras mais justas. Perde-se cada vez mais e mais a identidade das cidades, dos estados e da nação. Vivemos num ano eleitoral. A pobreza dos candidatos se repete acachapante. Ainda que desta vez tenhamos uma escolha real, é preciso saber se, de fato, será possível governar.

Ó Terra Querida
Oh Mundo Sem Porteira


JRToffanetto

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