Certo que muitas histórias lindas e de valor inestimável para a evolução da humanidade estão ocorrendo a cada instante, espontaneamente, na simplicidade do eu natural, por aqui mesmo, lá Cochinchina...
Pergunto-me
o que fazemos diante dos jornais, da televisão, da internet? Assistir carrascos
encapuzados executando inocentes na Palestina, no Iraque, ou por aqui, no meio
da rua a troco de banalidade?
Todo mundo
sabe destas histórias e se você alega desconhecimento te perguntam em que mundo
você vive. Respondo-lhes que vivo num mundo bem melhor que o destas histórias
de arrepiar.
Hoje mesmo,
na fila do supermercado, quieto comigo mesmo, convidaram-me para se juntar à
indignação diante do episódio em Porto Alegre aonde um Pai matou o filho,
uma criança.
Pra mim, são conversas, histórias pra boi dormir. Procurando desconversá-los, a propósito
de uma leitura recente, perguntei se algum deles tinham lido o poema “A Pavorosa Ilusão” de Bocage.
- Ah tá,
poesia, né?
Respondi à
ironia do desprezo para com os poetas:
- Não creio
que ela seja do meu entendimento por poesia, mas um belo poema lírico, isto sim, e de
tantas verdades desnudas que...
- Ce tá
brincando... esta coisa de poesia está fora da realidade. Coisa de “larai”.
- O contrário
é que é o verdadeiro. Leia o poema de
Bocage que te recomendei, quem sabe lhe sirva pra alguma coisa.
Ficaram
pasmos. Um deles bufou como a se segurar para não avançar contra mim, mas um outro
desconversou perguntando dos jogos do campeonato brasileiro para a quarta-feira
e todos se voltaram para ele e, finalmente, esqueceram-se de mim.
Mas... ah se
me perguntassem sobre “A Pavorosa Ilusão”.
.. Não que eu esperasse por isto, magina!..
Dissessem-me um simples “porque?” e eu lhes teria respondido:
- Olha, se o
poema de Bocage foi bom para a doce Marília, quem sabe possa ser bom para vocês
também.
Naturalmente não fizeram a tal pergunta, pois certamente teríamos virado notícia de
jornal. Já imaginaram uma manchete assim:
“CRIME EM
PORTO ALEGRE X POEMA DE BOCAGE LEVAM VALENTÕES PARA A DELEGACIA DE
POLÍCIA” ou “POESIA DÁ BRIGA EM VILA ARENS”
Duzentos
anos depois da morte de Bocage... Na internet haveriam ensaios com os mais
variados títulos:
“BOCAGE E
SANGUE”, ou “AINDA BOCAGE, DOA A QUEM DOER”, ou “BOCAGE POR BOBAGEM”, ou ainda “BRIGA POR CAUSA DA MARÍLIA DO
POETA LUSO”.
JRToffanetto
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