O silencio é canoro
Nada o ofende, nem os ruídos do trânsito paulistano.
Dei-me conta de não sentir passo a passo o meu peso sobre o joelho esquerdo. Sem a minha joelheira, eu mancava com destreza.
Entre a rua Sena Madureira e República de Israel, estou num canteiro largo, arborizado. Imponentes eucaliptos sobre mata nativa junto à calçada. Ocorre um incidente dissonante, alguém grita com seu cão. Certamente, o gritador sobre o animal é surdo à linguagem dos pássaros. Sem ouvidos para o canto mateiro do sabiá-poca, nem o grande coro de pardais saudando os azuis tomando conta dos espaços entre cobertura de árvores e nuvens.
Cães e muitos dos seus donos nem levantam seus olhos para os céus.
Sinto que os "poca" não faz conta destas dissonâncias, nenhuma conta. Sem estremecimentos óbvios, obtive a seguinte resultante: o silêncio é canoro e daí a lógica desta vibração sentida, vivida. Os pássaros, todos eles, nunca cantam em vão, e mais, a florescência não se dá em vão. O que fora botão velado abre-se para a luz do céu em linda flor. Flores são entidade da pureza igual beleza e, na mesma razão, pássaros são entidades canoras de encanto da pureza igual perfeição, daí o fato de pousarem nas alturas.
Sabiá poca (link para o seu canto)
JRToffanetto
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