terça-feira, 6 de outubro de 2020

O silencio é canoro na manhã paulistana

 O silencio é canoro

Nada o ofende, nem os ruídos do trânsito paulistano.

Dei-me conta de não sentir passo a passo o meu peso sobre o joelho esquerdo. Sem a minha joelheira, eu  mancava com destreza.

Entre a rua Sena Madureira e República de Israel, estou num canteiro largo, arborizado. Imponentes eucaliptos sobre mata nativa junto à calçada. Ocorre um incidente dissonante, alguém grita com seu cão. Certamente, o gritador sobre o animal é surdo à linguagem dos pássaros. Sem ouvidos para o canto mateiro do sabiá-poca, nem o grande coro de pardais saudando os azuis tomando conta dos espaços entre cobertura de árvores e nuvens. 

Cães e muitos dos seus donos nem levantam seus olhos para os céus. 

Sinto que os "poca" não faz conta destas dissonâncias, nenhuma conta. Sem estremecimentos óbvios, obtive a seguinte resultante:  o silêncio é canoro e daí a lógica desta vibração sentida, vivida. Os pássaros, todos eles, nunca cantam em vão, e mais, a florescência não se dá em vão. O que fora botão velado abre-se para a luz do céu em linda flor. Flores são entidade da pureza igual beleza e, na mesma razão,  pássaros são entidades canoras de encanto da pureza igual perfeição, daí o fato de pousarem nas alturas. 

Sabiá poca (link para o seu canto)

JRToffanetto

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